"Com liberdade, livros, flores e Lua, quem não seria inteiramente feliz?"

(Oscar Wilde)

sábado, 29 de setembro de 2012

Coisas que ele já deveria saber




O amor não é exatamente como as músicas que tocam na rádio contam. Sabe como a gente descobre isso? Amando. Vivendo a incrível e às vezes devastadora, experiência de sentir e enxergar a nossa própria felicidade no sorriso de um outro alguém. Quando acontece é mágico. Mas em um mundo naturalmente egocêntrico como esse que vivemos, isso não é tão fácil quanto parece.
Afinal de contas, todo mundo tem sua própria história e não adianta, amor nenhum apaga isso. Na verdade esse sentimento existe mesmo é pra gente se curar e se cuidar. Ver graça na existência. Nas sextas. Mas principalmente, aceitar que ninguém é perfeito e que o todo dia vamos aprender alguma coisa com alguém inesperado. Sério. Até com aquele cara que fez você chorar durante horas na sexta.
E esse texto é justamente pra ele. Ou eles. Parágrafos que contam de uma maneira superficial o que vi, vivi e aprendi. As certezas que tirei das minhas pequenas incertezas de cada dia. Bom, chega de enrolação. Lá vai:
1. Para de achar que entende sempre o que ela sente. Anota aí: Sentimentos mudam em questão de atitudes. Ficar imaginando só torna as coisas mais complicadas do que já são. O título de namorado não te faz um telepata. Abre o jogo. Uma boa conversa de verdade te transforma em um cara maduro. Garotas espertas gostam de caras maduros.
2. Não queria substituir a melhor amiga. Namorado é namorado e amiga é amiga. Ambos são cargos importantes na vida de uma garota. É simples: Um é o cara que vai entrar no tapete vermelho e a outra é a que vai ser madrinha e fotografar tudo no melhor ângulo (porque só ela sabe isso). Essa competição é idiota. Caras que ficam querendo atenção o tempo todo são um saco. Respeite o espaço e não ache que, por estarem juntos, você será a vida dela. Você só faz parte disso. E se não ficar esperto. Nem isso, viu? Vai por mim: O maior medo de uma garota é ver as duas pessoas que ela mais ama se amando ou se odiando demais.
3. Não comece uma história no meio da outra. Todos nós temos um passado. Até aquela garota que você ficou sem compromisso na festa do final de semana. Flashbacks não são justificáveis. Ou você ainda sente ou você tá pronto de verdade pra viver outra experiência. Nunca um meio termo. Eu sei vai, todos nós precisamos de um tempo pra superar certas coisas. Só não acho justo colocar alguém inocente nessa confusão. Cativar pra depois simplesmente colocar no banco de reserva. Isso é jogo perdido. Ao contrário do que dizem, o tempo não faz as coisas que vivemos ficarem pra trás. O tempo faz a gente ser maduro o suficiente pra guardar dentro e aí sim, seguir em frente.
4. Vai com calma. Coloca o cinto de segurança. Olha para os lados e depois veja se o sinal está verde. Agora sim, acelere e sinta o vendo balançar seu cabelo. Escute a música que começou a tocar no rádio. Que sorte. Ainda é sua preferida. Ok. Foi uma metáfora bobinha pra explicar que paixões também podem acontecer em um tempo legal. Aos pouquinhos. Conhecendo os defeitos, erros e acertos um do outro. Equilibrando e adaptando a realidade dos envolvidos sem pressa de chegar logo no logo no destino. Aliás, qual é o destino mesmo? A vista e o abraço sincero parecem tão convenientes pra você agora.
5. Sexo não é tudo. Assim como o amor não é. É como aqueles vidros com areia colorida dentro que a gente compra de lembrança quando vai no litoral. Eles precisam estar exatamente com medida certa, no lugar certo, pra formar um desenho realmente bonito. É importante que os dois queiram o mesmo desenho, sabe? Mas a vida é assim. Cada um tem seus medos. Cada um tem seu tempo. A questão é: tá disposto a adiantar ou atrasar os ponteiros?
6. O juros da cobrança pode sair caro demais. E ela provavelmente nem estará disposta a pagar tanto. Resmungar, mandar indiretas, ficar em silêncio pra ver se ela pergunta o que aconteceu… Coisas que todo mundo fez, coisas que todo mundo faz. Mas será que você não tá exagerando? Você não vai transformá-la na garota dos seus sonhos. Se der sorte e o destino for bonzinho, vai é se apaixonar cada vez mais por aqueles defeitos que antes você bobinava. Se não acontecer… desencana.
7. O que vão pensar é a última coisa que você deve pensar. Ninguém merece homem inseguro que precisa da aprovação alheia pra fazer, dizer ou demonstrar alguma coisa. Não acredito nessa de cuidados com exposição do casal. Quando a gente tá apaixonado de verdade não damos a mínima pra isso. Queremos mesmo é pular, beijar, escrever e gritar pra todo mundo o que sentimos pelo outro. Sem exageros ou com exageros. Vai por mim, isso não era pra ser um grande problema.
8. Não pare de fazer o que te fazia feliz. Mesmo se ela pedir, ameaçar ou implorar de joelhos. Divida seu tempo, organize seus compromissos e se precisar, tenha uma agenda. Mas não pare nunca de achar graça nas coisas que te fazem feliz agora (ou fizeram ontem, né?) simplesmente porque alguém acha que você deveria fazer isso. Às vezes isso acontece naturalmente, e é uma merda. Burro é quem muda por amor ao invés de deixar o amor mudar tudo.
9. A roupa que você veste não é o mais importante. O estilo de música que você curte também não. Muito menos o número de seguidores que você tem no twitter. O que realmente faz diferença no fim das contas é o jeito que você faz ela se sentir toda vez que se encontram. Isso é charme. Isso é humor. Isso é inteligência. É papo. É sintonia. É também o que você está disposto a fazer (de verdade) pelo que você sente.
10. Amor é um sentimento louco que não faz o menor sentido. Se a gente for parar pra pensar, viver também não. Mas é justamente quando não temos tempo de ficar criando planos mirabolantes para fazer as coisas mais simples da vida, que somos felizes de verdade. Pense pouco, diga menos e faça o que for preciso.
Uma última coisinha: Ser humano não combina com generalizações. Talvez isso funcione, talvez faça tudo desandar de vez. Mas se você for parar pra pensar, a culpa não será toda de alguns parágrafos escritos em uma madrugada qualquer por uma pessoa que nem te conhece. Então, se você chegou até aqui, seja qual for o motivo, pense nisso. E naquilo.

Entre dois mundos




A rua é a mesma. O calor também. Depois de algumas horas no ônibus olhando a estrada e viajando, em pensamentos, provavelmente bem mais rápido do aquelas rodas aguentariam, cheguei. Engraçado. Voltar para a casa dos meus pais sempre me faz pensar na vida. Lembrar de algumas coisas e imaginar outras. Não sei se isso é saudável, ou se é mais um daqueles rituais de sofrimento que costumo cultivar quando tenho algum tempo livre. O importante é que quando venho pra cá, do meu antigo quarto, consigo sentir como eu me sentia antes. E às vezes, em épocas de grandes mudanças e pequenas incertezas, isso se torna fundamental e altamente perigoso. Gosto do risco.
Abraçar a Zooey. Ficar o dia todo deitada na cama olhando pro teto no escuro. Almoçar com a família toda na mesa ouvindo as piadinhas sem graça do meu pai. Escutar carros passando no final da tarde com músicas de gosto duvidoso e no último volume. Minha tia chamar pra ir à missa. Resumindo: Coisas simples que antes eu não dava a mínima e agora fazem meu coração bater mais calmo e feliz. Como aquela antiga voz e conversa rápida no telefone. Que louco, né? O mundo dá tanta volta que às vezes é tão difícil ficar em pé. Mas me apoiando nessas palavras, criei uma teoria. A teoria dos dois mundos. O das pessoas simples e o resto.
No mundo das pessoas simples as coisas costumam ser um pouco mais leves. Menos pose, expectativa e maquiagem. Mais praia, tardes sem grandes acontecimentos com os amigos de longa data e tempo pra bater-papo com a avó na varanda. Menos pressão, cobranças e promessas. Mais hoje. Menos atualizações no facebook. O mais importante de tudo: menos necessidade de julgamento dos outros e da vida. Por que precisamos entender cada resto de sentimento em?
Pessoas complicadas geralmente nos prendem. Já as pessoas simples nos deixam ir pra onde precisamos ir. Elas não precisam de tantas explicações, sabe? Simplesmente continuam vivendo e continuam lá. Em algum lugar onde vamos sempre alcançar. Independente do tempo. Da distância ou do que for. Pessoas complicadas estão ocupadas tentando parecer ocupadas. E por mais que isso seja irresistivelmente misterioso, no final das contas, são só pessoas perdidas com suas próprias escolhas e consequências.
Onde eu entro nessa história toda? Sei não. Acho que tenho um pé nos dois mundos. E essa sensação que às vezes me corrompe e consome, como agora, é apenas a consequência da vontade de estar sempre em equílibrio.

sábado, 25 de agosto de 2012

Flamengooooooo


“Para qualquer um, a camisa vale tanto quanto uma gravata. Não para o Flamengo. Para o Flamengo a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte:- quando o time não dá nada, a camisa é içada, desfraldada, por invisíveis mãos. Adversários, juízes, bandeirinhas, tremem, então, intimidados, acovardados, batidos. Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará à camisa, aberta no arco. E diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.”

Nelson Rodrigues

Complexo de vira-latas ( Nelson Rodrigues )







Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: “O Brasil não vai nem se classificar!”. E, aqui, eu pergunto:

— Não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?

Eis a verdade, amigos: — desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que nos ficou dos 2 x 1. E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo passou em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros, Obdulio arrancou, de nós, o título. Eu disse “arrancou” como poderia dizer: “extraiu” de nós o título como se fosse um dente.

E hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvida: — é ainda a frustração de 50 que funciona. Gostaríamos talvez de acreditar na seleção. Mas o que nos trava é o seguinte: — o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma coisa: — se o Brasil vence na Suécia, se volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e 60 milhões de brasileiros iam acabar no hospício.

Mas vejamos: — o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades concretas? Eu poderia responder, simplesmente, “não”. Mas eis a verdade:

— eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: — sou de um patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo. Tenho visto joga dores de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros, que apanharam, aqui, do aspirante-enxertado do Flamengo. Pois bem: — não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se num Puskas. Eu contra-argumento com um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho.

A pura, a santa verdade é a seguinte: — qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma:

— temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “com plexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor: — “O que vem a ser isso?” Eu explico.

Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Por que, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo. Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: — e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: — porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos.

Eu vos digo: — o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo.

O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota.

sábado, 14 de julho de 2012

Porque amar é isso...


"Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera? E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, ou ainda lhe dará. A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”


Caio Fernado Abreu

Não pare de Re-amar...


Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar.


Caio Fernando de Abreu

É isso...

Então crescemos e aquele nosso amor platônico se transforma no cara mais babaca que já conhecemos. A época de colégio acaba e finalmente a hierarquia dos grupinhos populares vai por água abaixo. Malhação vira mais um programa chato da Globo. Nosso animal de estimação começa a não ter mais tanta disposição. Então nossas melhores amigas já não são tão melhores assim. Mudamos de gosto musical. Percebemos que as primas que eram bebês até pouco tempo já sabem dançar funk. Então amamos um cara. Logo depois aprendemos a lidar com a distância. Então conhecemos outro cara. Logo depois aprendemos a dizer adeus. Então as preocupações do futuro se transformam e deixam de ter a ver com garotos. Temos que decidir o que fazer da vida. Então alguém que amamos muito é arrancado dela. A solidão deixa de ser só uma palavra. Começamos a preferir os livros sem imagens. Então vamos pra faculdade. Então tentamos nos misturar e acabamos esquecendo o que aconteceu na noite passada. Depois de alguns meses paramos de achar graça nas coisas que antes eram incríveis. Terminamos a faculdade e vamos em busca de um bom emprego. Então enfrentamos horas sem dormir e longe de computador.  Alguém diz que não somos boas o suficiente. Ligam pra informar que nosso animal de estimação faleceu. Então mudamos de emprego, de cidade, de cabelo, de guarda-roupa, de carro, de melhor amigo, e mais uma vez, mudamos a maneira de ver a vida. Fechamos os olhos e achamos que as coisas estão mais loucas do que nunca. Aí lembramos que já passamos por tudo isso que acabei de contar. Então adormecemos e acordamos sem lembrar de nada. É isso.




Depois dos quinze.